Esta noite I (4a vez)

Ela sempre aparece assim, como se quisesse me surpreender. E sempre consegue. Desde que foi embora assim o foi. Pensei uma vez que talvez fosse a única maneira de se mostrar... mas outros tantos já se mostraram de outras formas. Talvez seja essa a mais precisa, ela sempre precisou ter controle da situação. Mulher forte essa.

Dessa vez foi diferente. Não foi natural vê-la, como das outras, como se ela ainda estivesse entre nós. Foi até um pouco assustador. Minha tia trazia ela sob seu braços, como uma surpresa para nós. Nos seus olhos não se via felicidade em nos ver (estava lá toda a família reunida) talvez fosse duro para ela estar alí, ou simplismente difícil. A materialidade me parece uma idéia desconfortável para quem já não a teve. São os sonhos matéria?
Ela apenas olhava sem paciência. Não parecia querer isso. Será que não queria nos ver? Fora trazida a força? Minha tia faria isso?
Tive raiva, tive medo. E daí tive vergonha de ser tão desprezível para minha vó que me ver depois de tanto tempo não lhe valia a pena.
Me levantei e abracei ela por trás. Sem resposta.
Voltei a sentar. As cadeiras eram antigas. De madeira.

e tudo terminou assim.